O Brasil será governado por uma mulher por mais quatro anos mas, nos estados, a narrativa não se repetiu. Em 25 estados e Distrito Federal, homens foram eleitos para o executivo. Isolada nas estatísticas, apenas uma mulher venceu uma disputa estadual: Suely Campos (PP), eleita neste domingo a primeira governadora da história de Roraima. Com uma vitória de 54,88% contra os 45,12% obtidos pelo atual governador, Chico Rodrigues (PSB), seu adversário no segundo turno, Suely foi uma candidata tardia, e deve ter uma “sombra” ao lado até o fim do mandato: seu marido, o o ex-governador e empresário Neudo Campos (PP).

— Tive de deixar a candidatura e escolhi colocar a minha esposa, pois confio nela e nós seguiremos juntos na disputa eleitoral — disse o político ao portal G1, na ocasião.
Neudo, que administrou o estado por dois mandatos, em 1994 e 1998, foi preso em 2003 na Operação Gafanhoto. Ele foi acusado de liderar um esquema para criar folhas falsas de pagamento, que usava 5.500 funcionários fantasmas, os “gafanhotos”, para o enriquecimento de 30 autoridades do Estado, entre elas ex-parlamentares, atuais deputados estaduais e federais e conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. O esquema pode ter desviado mais de R$ 230 milhões dos cofres públicos em Roraima. Em 2002, tentou eleição para o Senado pelo (PFL) e, em 2006, ganhou um mandato de deputado federal pelo PP.
No currículo de Suely, por sua vez, também constam episódios de corrupção: quando primeira-dama de Roraima, ela se envolveu em escândalos do governo. O Tribunal de Contas do Estado abriu processo para apurar compras mensais consideradas exageradas para a residência oficial, tais como 70 quilos de filé mignon, 30 quilos de camarão, 30 quilos de bacalhau, entre outras iguarias. A investigação apurou que parte dos produtos era desviada para um restaurante de familiares de Suely e revendida. Ela negou, alegando que os alimentos eram doados pela residência oficial a desabrigados. Aos 61 anos, Suely é mãe de quatro filhos e casada há 41 anos Neudo Campos. Nas duas ocasiões em que o marido ocupou o cargo de governador, em 1997 e 2002, foi secretária do Bem-Estar Social do estado. Em 2003, foi eleita deputada federal por Roraima.
A governadora eleita, que se declarou empresária ao TSE, foi ainda vice-prefeita de Boa Vista, entre 2009 e 2012. A atuação na prefeitura, no entanto, foi considerada discreta. Com PTB e DEM em sua coligação, Suely previu ao TSE gastos de R$ 2 milhões em sua campanha. O único bem que consta em sua declaração é um trator no valor de R$ 114 mil. Na última eleição que disputou, para a vice-prefeitura de Boa Vista em 2008, Suely havia declarado ter mais: R$ 173,9 mil, incluindo duas cotas de participação em empresas de Neudo, uma imobiliária e uma empresa de engenharia).
No discurso após a vitória, Suely falou em implementar políticas públicas “para mulheres, para os jovens, crianças, para a família”. E disse que, por ser a primeira mulher eleita para o cargo, foi uma eleição “histórica”:
— Eu estou cheia de muita energia, de muita vontade, na reconstrução do meu estado — afirmou.
(O Globo)
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